LIVROS
A Linguagem dos Homens e a Linguagem de Deus
Nesse ensaio, a pesquisadora Marta Kawano mergulha na obra do filósofo anglo-irlandês George Berkeley (1685-1753) em busca da sua doutrina dos sinais. A capacidade linguística dos seres humanos é a maior evidência de sua espiritualidade, pois ela permite que compreendam a linguagem do mundo, escrita por Deus racionalmente. Entender e decifrar essa linguagem confere aos homens um poder muito peculiar, porque eles se tornam mais sábios, quer dizer, capazes de ver para além da matéria e da sensibilidade.
O Único Verso
Explorar o que a linguagem pode revelar em seus caprichos é uma preocupação marcante dos ensaios de Bento Prado Jr. (1937-2007), escritor ímpar na prosa filosófica brasileira. A escuta atenta àquilo que as palavras podem esconder está presente também nesta coletânea, que reúne os poemas por ele escritos ao longo de quase cinquenta anos de criação. A consciência aguda da linguagem, afiada ainda nas leituras da filosofia e da psicanálise, é uma herança da poesia modernista brasileira (principalmente Drummond e Bandeira), cujo legado se faz nitidamente ouvir neste livro.
O poeta tem atrás de si toda a grandeza, mas também o peso de um passado; ele se vê pequeno, impotente, como um “claro rebento de uma estirpe rara”, que, no entanto, é “muito menos do que um Prado”. Ironia do destino absorvida com autoironia por um autor que conhece bem a condição precária da autoria. O sobrenome veio antes, assim como a repetição vaticinante do próprio nome. O que virá depois? Um mundo se foi, e outro se agigantou à sua frente; entre o antigo e o novo, o poeta resiste, não sem delicadeza, insistindo em querer abraçar todo o universo em um só verso.
Entre Medicina e Filosofia
Os textos aqui reunidos têm como ponto de partida a psicologia empírica oriunda da metafísica wolffiana e a antropologia do Iluminismo alemão, dois campos extremamente fecundos do pensamento do período, onde se entrecruzam literatura, filosofia, medicina e teologia. Stefanie Buchenau, professora da Universidade de Paris VIII e autora de inúmeros trabalhos sobre a filosofia e a literatura do século XVIII, revela com muita leveza a precisão a importância da medicina na obra de expoentes da filosofia tedesca, como Sulzer, Herder, Kant e Maimon.
O herói niilista e o impossível além do homem
A partir de um exame minucioso da obra Os demônios de Dostoiévski, o livro apresenta uma dos traços centrais da modernidade, a saber, a sua espiritualidade niilista. Talvez uma das lições mais importantes do livro seja a de que certas questões filosóficas da modernidade — das mais graves, diríamos — só podem ser devidamente iluminadas por obras literárias.
Três lições sobre a Mitologia
As conferências proferidas por Martin Disselkamp analisam o pensamento mitológico do escritor alemão, situando-o em relação às discussões sobre o mito no Iluminismo. Segundo o autor, com sua concepção mitopoética Moritz antecipou o que seria a “nova mitologia” do primeiro romantismo alemão.